terça-feira, 19 de junho de 2012

Aprendizagem colaborativa


Não há saber maior ou saber menor. Há saberes diferentes. 
Paulo Freire
 

Nos últimos anos, com a propagação da internet, deu-se a divulgação da comunicação através da web – uma nova forma de disseminação do conhecimento, muito interativa e transformadora. Através de computadores, grupos com mesmos interesses, mesmo separados pela distância ou pelo tempo, comunicam-se para realizar colaborativamente um projeto em comum.

A educação, nos dias de hoje, em muito se diferencia da educação de uns anos atrás, em que existia apenas o básico. Para fazer um trabalho em grupo, os alunos tinham de se encontrar presencialmente, seja na própria escola ou em uma biblioteca pública, seja na casa de um dos integrantes do grupo. Muitas vezes, aquelas poucas horas de encontro não eram suficientes para finalizar o trabalho, o que se transformava em um grande problema, principalmente devido ao prazo, ao horário de fechamento da escola ou da biblioteca, ou à disponibilidade da família em acolher o grupo.

Hoje, com a facilidade de acesso à internet e com tantos recursos disponíveis, principalmente em se tratando de ferramentas colaborativas, os alunos conseguem trabalhar em grupo, sem precisar se deslocar, sem ter de desmarcar compromissos. Qualquer hora/lugar com acesso à internet é hora/lugar para estudar. Mesmo que a modalidade de ensino do aluno seja a presencial, ele pode dispor de tais recursos. Em se tratando de educação a distância, esses recursos são ainda mais importantes e totalmente indispensáveis.

A internet propicia o acesso instantâneo à informação e abre novas possibilidades na educação. Não se trata de um campo de conhecimento estático, mas bastante dinâmico, que está em constante desenvolvimento. Os educadores aliam-se à tecnologia para ampliar o conhecimento dos alunos. Já é bastante comum encontrar, mesmo em cursos totalmente presenciais, diversos professores que usam a internet para disponibilizar a seus alunos materiais das aulas presenciais, textos complementares, comunicados, etc.

A tecnologia oferece uma gama de ferramentas colaborativas capazes de contribuir intensamente para a disseminação do conhecimento. A aprendizagem colaborativa em rede utiliza modernas tecnologias da informação e da comunicação com interfaces simples de serem usadas, proporcionando uma boa interação entre os interlocutores. São várias as opções disponíveis na internet, as quais viabilizam o trabalho colaborativo, tais como: fóruns de voz, fóruns de discussão, wikis, comunidades de prática, ambientes virtuais de aprendizagem, etc. No entanto, cabe aos professores selecionarem e utilizarem com eficiência tais recursos. A tecnologia por si só não transforma a educação, cabe aos professores serem os agentes da mudança.

As ferramentas sociais permitem que a difusão do conhecimento se dê além da sala de aula. Com elas, professores e alunos têm a oportunidade de trabalhar de forma colaborativa, otimizando a comunicação e facilitando a interação. Os alunos tornam-se mais participativos e produzem mais textos. De acordo com Siemens, as redes e o acesso aberto aos recursos tecnológicos permitem aumentar a capacidade dos usuários de aprimorar o conhecimento, de aprender interagindo, participando e produzindo.

Segundo Dieu, a aprendizagem colaborativa em rede permite o desenvolvimento de diversas capacidades metacognitivas, como estratégias de busca, seleção e avaliação de fontes de informação; discussão, negociação, participação e colaboração em grupo; planejamento e gestão de tempo; flexibilidade e criatividade; pensamento crítico.

É importante que fique claro que colaboração não significa interconexão, contato social por listas de discussão ou correios eletrônicos, por exemplo. Esses recursos não são capazes de promover mudanças significativas nas relações de ensino-aprendizagem. Devemos entender a colaboração como uma atitude que deve ser gerada, amadurecida e, em geral, ensinada e avaliada. Hoje, colaborar é o verbo da sociedade da informação e do conhecimento, é uma ferramenta pedagógica, um subsídio na autoconstrução do conhecimento por parte do sujeito autônomo.

A atividade colaborativa acontece a partir da interatividade, que pode ser considerada com a possibilidade de os indivíduos participarem ativamente no processo de ensino-aprendizagem, interferindo com ações e reações. Por meio dessa interatividade, pode se dar a participação criativa dos usuários e as trocas entre os membros de um ambiente virtual.

No entanto, apesar da diversidade dos recursos disponíveis na rede que visam potencializar a comunicação, muitos membros do grupo não participam ativamente da disseminação do conhecimento. Seja por falta de ideia, de tempo ou de interesse, eles optam por simplesmente observar, o que Freud chama de pulsão escópica, que é o desejo de saber. Nas comunidades virtuais de aprendizagem – AVA –, esses membros são conhecidos como absorventes ou Bob esponjas.

O trabalho colaborativo na web solicita a participação ativa de todos os membros do grupo, indo além da simples distribuição de tarefas (cooperação) ou da observação. Por se originar e se desenvolver em uma dimensão coletiva, a atividade colaborativa requer reciprocidade e envolvimento de todos na construção do conhecimento.

Vemos, hoje, uma nova dinâmica proposta pelos educadores e uma nova postura por parte dos alunos, os quais ganharam autonomia, substituindo a repetição e a absorção passiva de conhecimento pelo trabalho colaborativo; os quais trocam e constroem novos conhecimentos, estabelecendo laços virtuais, auxiliando uns aos outros no aprendizado sobre determinado assunto. Temos aqui a inteligência coletiva, conceito criado por Pierre Levy.

Inteligência coletiva é uma inteligência distribuída por toda parte, incessantemente valorizada, coordenada em tempo real, que resulta em uma mobilização efetiva das competências.

Não se trata, aí, de “fundir as inteligências individuais em uma espécie de magma indistinto”, mas sim, de “um processo de crescimento, de diferenciação e de retomada recíproca das singularidades”.
Segundo esse autor, a inteligência e/ou a cognição são resultado das redes complexas onde interagem diversos atores. Não é o ser individual que é inteligente, mas o ser participante de um grupo, o ser social. Juntar as peças da aprendizagem em um ambiente colaborativo é uma boa maneira de interação para a construção do conhecimento.

Como consta do site Trabalho colaborativo na/em rede[2]:
os sujeitos em comunidades virtuais de aprendizagem que promovem a colaboração são coautores de vários processos de criação, atuação e significação. Isso favorece a consolidação de uma inteligência coletiva que se caracteriza ‘por ser globalmente, distribuída, incessantemente valorizada, coordenada em tempo real, que conduz a uma mobilização efetiva das competências’. Que possui como 'palavras de ordem’ os seguintes aforismas: cada um tem um saber, ninguém sabe tudo e todo o saber está na humanidade.
 
Renata Vasques








[1] Pierre Lévy (Tunísia, 1956) é um filósofo da informação que se ocupa em estudar as interações entre a Internet e a sociedade. (Fonte: Wikipédia)


[2] http://www.comunidadesvirtuais.pro.br/colaborativo/04.htm